Brashes 2022

Dia 6 de novembro foi um dia que talvez não entre para a história por sua excepcionalidade. Todo mundo lembra de sua primeira vez numa bicicleta, um primeiro beijo, um primeiro salário. Há eventos que muito possivelmente passarão pela nossa memória e sairão. Isso não tira deles sua importância, apesar disso tudo.

É difícil se lembrar de cada um jogo durante os 20 anos de rivalidade entre as embaixadas britânica e australiana. Desde os anos 2000, se premia o patrono do críquete brasileiro, John Landers, com um Ashes “à brasileira”, o “Brashes”. É um jogo que se reúne aos interessados em defender as cores dos países mais tradicionais do esporte (desculpe Índia, eles não aceitaram o triplo test do Greg) para um jogo de 30 overs, o maior formato aqui no Brasil. E desta vez não foi diferente. 30 overs, e dois times compostos de jogadores interessados e interessante, se partirmos de múltiplos pontos de vista.

A Inglaterra (e Gales) veio a campo com sua maioria britânica. Leon Smit (que suponho ser sulafricano, apenas suponho) e Sam Bannel, coordenadores de rendimento da Cricket Brasil começaram rebatendo, e foram seguidos de: Ian Crouch, Alaistair Townsend, Josh Ashbery (que veio de Sergipe para jogar depois que soube da partida graças ao anúncio da ABRAC), Liam Cook (técnico da seleção feminina), Richard Avery (o homem tetracentenário), o tenente bombeiro Rudy Hartman (que apesar de Brasília, é filho de inglês, o nome nem sequer disfarça), Alex Dilley e completando àqueles que não entraram para rebater o inconfundível Matt Featherstone e Felipe Lima de Melo, que veio representando ao Carioca CC neste evento.

Já os australianos erão tão ingleses quanto nosso representante. O time era o Brasília, em sua pura forma. Todos os jogadores que fizeram a história dos candangos pisaram no campo. Akash Cahar, Victor Poubel, Mohammad Umar Saleem, Arvind Kidambi, Susant Behera, Dr. Alexandre Miziara, Siddharth Amit, Kamal Bishnoi, Dhanuska Jayamal, Fábio Dela Pace, Anthony Joseph e o único australiano de fato, Alex Milnes. Sim, 11 contra 12; e o Clupe Nipo ficou pequeno, devo admitir.

Os ingleses, capitaneados por Richard Avery (que lembrava com carinho quando a Casa de Hanover controlava a Inglaterra) escolheram rebater e começaram, como já dito, com Smit e Bannel que fizeram uma boa parceria de 75 corridas. Contudo do alto dos seus 1,45m (um pouco mais, assumo), Fábio Dela Pace mudou o jogo em seu primeiro over. Eliminando Bannel (este com um incrível “dive catch” do jogador mais jovem da casa, Victor Poubel) e depois Smit, colocou Brasília, digo, os australianos de volta na partida, fazendo Ian e Alaistair (que devo ter chamado de “Aldair” umas 20 vezes durante a transmissão que foi feita no Facebook do Carioca CC, que inclusive se encontra disponível apesar da baixa qualidade), ficarem sob pressão nos overs seguintes. Nada que não pudesse ser revertido quando Josh Ashbery entrou, no do 12º over. Uma parceria dele com Townsend para 60 corridas novamente deu a folga que os ingleses queriam, e oos jogadores que os sucederam entraram tranquilos a ponto de colocarem 217 de alvo para os donos da casa. Tudo bem que os extras ajudaram, até porque se o Brasília era o clássico, o Clube Nipo e seu inconfundível boundary curto atrás do wicket-keeper também. É o charme do campo, assim como a inclinação de perto do Pavilhão de Membros do Lord’s. Lançando, poderia destacar o já destacado Fábio Dela Pace, com 4-0-18-2; Kamal Bishnoi, o ex-presidente da ABRAC (agora Rudy Hartman, com Fábio como vice), com 6-0-39-1, e Siddhart Amit, com 5-0-25-1.

Brasília começou rebatendo com Akash e Poubel, e tiveram seu primeiro revés ná no over inicial. Poubel rebateu uma pra 4, e depois foi eliminado numa bela bola de Ashbery qual errou completamente. Com dois jogadores já acostumados a serem agressivos, 91 corridas apareceram entre o 1º e o 10º over, até que novamente Josh apareceu e conseguiu eliminar Umar com um catch providencial de Alex Dilley no Cow Corner. Isto por si só não colocaria desespero nos australianos, contudo no over seguinte Richard usou toda a sua experiência (da época em que se usavam tacos de hóquei na grama pra rebater) e tirou Arvind e Susant, colocando no 14º over Rudy contra Alexandre. 16 corridas para Alexandre. Isso fez a equipe escolher Felipe para lançar e tentar jogar as bolas para o alto, forçando um erro dos brasilienses. O erro não veio, contudo, como o próprio Felipe já disse em entrevista ao “The Cricketer”, colocar o batsman “como um sapo numa panela de água morna e depois aquece-la aos poucos” é uma alternativa. No único boufenning.richard@gmail.comndary cedido pelo carioca, Akash rebateu pra 6. No over seguinte, Josh lançou a mesma bola, e o “australiano” não foi feliz a errando. Estancou-se o bom momento do selecionado do Embaixador Australiano, que inclusive prestigiou o evento em sua plenitude, não perdendo uma bola sequer no embate.

Precisando de 73 corridas em um pouco mais que 10 overs, a representação australiana tentou acelerar seu run rate, inclusive com uma boa entrada de Kamal Bishnoi. Todavia o middle e o low order não corresponderam, e apesar do bom chase dos brasilienses, o mesmo só foi obtido graças a muitos extras cedidos pelos ingleses, que acabaram no final das contas ganhando por apenas duas corridas.

Para completar o excelente dia, um coquetel regado de boas conversas e boa comida, para arrecadar fundos e homenagear às brasilienses que veem a seleção feminina ainda mais forte depois de todo seu esforço durante mais de uma década.

Finalmente, gostaria de agradecer a sra. Dela Pace pela organização, e ao Brasília CC por colocar de novo o “bonde nos trilhos”. Será um prazer encontra-los de novo em 2023, seja em Brasília, em Poços, aqui, onde for.